Diz-me assim o Fabrice, sotaque francês em português perfeito: você tem um blogue que não utiliza há três anos...
O Fabrice é um tipo de cultura, da Cultura, dirige ou ajuda a dirigir A Fábrica, antiga fábrica militar de Braço de Prata, uma coisa do tempo em que os sítios, às vezes, tinham nomes com uma piada do caraças. Disse-me aquilo e eu fiquei cheio de remorsos, culpa mesmo; negligenciei uma tarefa que era e é apenas da minha responsabilidade, e logo acrescentei, como acto de penitência, que não tenho tempo, não tenho tido tempo, o tempo tem-me tido o tempo todo, um arrazoado em torno do verbo ter; desculpas que eu arranjei, ao balcão onde do outro lado do dito o Fabrice pensará que me acertou em cheio: e acertou mesmo, o Fabrice pensa muito bem.
Aqui estou, sem esperança mas aliviado, porque quem falta como eu faltei, falto e faltarei, não pode desejar mais do que a possibilidade de escrever como quem fala sozinho.
Na Fábrica, vai o Fabrice pendurar umas tintas minhas que ele misericordiosamente escolheu, que estarão na sala onde todas as quintas-feiras de março cantarei do que vou fazendo há quase meio século. Creio que por causa desta minha única verdade que são tantos anos de profissão ininterrupta, o Fabrice resolveu aceitar a minha proposta abrindo-me as portas de uma casa que respira Artes por todos os poros; há casas que respiram e têm pele, que ouvem e lêem, que nos olham, com o olhar tranquilo que nos põe em paz, em paz com nós mesmos, mesmo, a Fábrica.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
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