quarta-feira, 3 de março de 2010

Campo Pequeno e nem tanto.

Os filhos, os amigos, a escola, tudo são sinais que ficam para a vida, por dentro dela. Mas há outros sinais, no meu caso as canções. Em 72 disse ao Ary que aquele meu tema musical me sugeria tourada, praça de touros, cor, trajes, modos e meneios, cortesias e falta delas, a linguagem tão específica da "festa dos touros" que aprendi em anos de transmissões da RTP e que serviram para transmitir ao Ary - "...mas eu não sei nada de touradas!" O vocabulário que consta do histórico texto da canção, escrevi-o eu naquelas folhas de sebenta onde o Ary registou a parte mais importante das letras para Música da história da canção em Portugal. No próximo sábado, vou à "Casa Maior" do toureio no nosso país cantar a célebre e sempre oportuna "Tourada". Tem um significado especial para mim? Tem. A verdade é que já há uns anos, no mesmo local e com direcção do Filipe La Féria ouvi a dita cantiga cantada por um jovem que a interpretou com coragem e qualidade. Mas ser eu a fazê-lo tem, também para mim, um encanto especial. Porque a tourada continua a ser o espectáculo belo e polémico que se repete na canção, anunciando naquele tempo e para espanto de um povo inteiro, que pouco mais de um ano depois a nossa vida mudaria para nunca mais ser a mesma. Ir lá eu cantar, no pleno exercício da minha profissão e da Liberdade que a "Tourada" gritantemente anunciava, é um motivo de alegria, da mais pura e profunda alegria. Não sei quantas vezes terei cantado a "Tourada", e muito menos quantas vezes voltarei a cantá-la. Mas nenhuma foi ou será como esta, porque esta explica, ao cabo de 37 anos, que o que a canção diz nada tem a ver com um Campo Pequeno, como tantos erradamente julgaram. A "Tourada" tem a ver com o campo muito maior da liberdade que tantos anos depois ainda nos dá sinais de enfraquecimento, lembrando que há que cantar todas as canções do nosso sonho concretizado a tempo inteiro. f.t.

8 comentários:

  1. O que me espanta é como passou a canção na censura. Não terão percebido o subtexto ou o lápis azul já estava a perder a cor? Um abraço (e até 4ª) Teresa R.

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  2. Lá passar, passou. Mas não foi numa das apresentações da Tourada, no Coliseu, que entrou com o Ary pela porta da frente e saíram pela de trás? Os amigos estavam lá, não para aplicar lápis, mas para os levar para um espaço amplo e arejado como convinha a um interrogatório.
    Tourada, interpretada com a força e garra de F.T., como quem acreditava na mudança que ia surgir, continua bem gravada na minha memória.

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  3. Caro Fernando Tordo,
    Este não é propriamente um comentário ao seu texto, sendo que queria desde já felicitar por aderir aos blogues podendo assim numa base mais contínua premiarnos com as suas ideias.
    Escrevo-lhe para lhe fazer um pedido. Á uns tempos (cerca de 2-3 anos) vi um concerto seu na aula magna (a data não a sei ao certo sendo que por estimativa poderá ser por volta de 1980).
    Assisti ao concerto pois sou um fã, induzido pelos meus pais (deixe-me dizer que tenho 30 anos) mas a surpresa das surpresas surgiu quando verifiquei que na 2, 3 fila do mesmo concerto estava o meu Pai, a mãe e a minha irmã. Falei com a minnha mãe que já nem se lembrava que o concerto tinha sido gravado.
    Devo-lhe dizer que chorei, principalmente por ver o meu pai que infelizmente faleceu em 2005. Era um bom homem, foi um lutador pela liberdade, tendo sido apenas um soldado desconhecido. Era igualmente um fã incondicional seu.
    Já pesquisei, procurei e acabei por não conseguir encontrar em qualquer lado esse concerto que muito gostaria de ter, quer pela música quer por se tratar de um documento tão importante para mim e para a minha mãe e irmã.
    O sr. sabe dizer-me como obter uma cópia desse concerto?
    Se sim peço-lhe apenas que me oriente no sentido certo, de forma alguma lhe quero dar qualquer tipo de trabalho.
    Se lhe for possivel responder deixo-lhe o meu contacto electrónico: franciscojfg@gmail.com
    Desde já agradeço a atenção dispensada e peço desculpa por estar a fazer este pedido deste forma, no entanto não sabia como contactá-lo.
    Sem outro assunto e desde já aceite os meus parabéns pela sua carreira em todas as suas vertentes assim como pela postura que sempre teve na vida.

    Respeitosamente

    Francisco Gonçalves

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  4. Prezado Francisco. Fico muito feliz com a sua solicitação, não posso ficar outra coisa. Vou tentar saber como é que o seu pedido pode ser satisfeito. Agradeço-lhe que tente saber a qual dos dois concertos faz referência, 85 ou 86, na Aula Magna. O seu pedido, para além de ser um gosto para mim, é uma obrigação que vou tentar cumprir. Abraço. f.t.

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  5. Caro Fernando Tordo:

    Bom tê-lo do lado de cá do haiku. Como verá é uma paixão suave mas muito persistente. É uma fonte inesgotável de interesse porque no fundo é um modelo de ver o mundo. Apesar de estar há alguns anos nesta paixão ainda me sinto muito "verde".
    O meu blog (www.haikuportugal.blogspot.com) tem mais de 500 "p.ts" e talvez alguns lhe interessem. Se me der o seu endereço postal terei muito gosto em lhe fazer chegar um dos meus livros de haiku. Tenho também uma biblioteca interessante de haiku em várias línguas.
    Muito bem-vindo! E conte comigo. Eu conto consigo.
    Um abraço!

    David

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  6. A "Tourada" faz parte do meu imaginário. Como também faz parte um espectáculo visto na tv em que cantava a lindissima canção dedicada aos seus filhos (talvez no S. Luis? Anos 80?) e eles cruzavam o palco e o vi comovidissimo. Gosto de o ouvir. Talvez um dia o veja ao vivo. Continue. Por favor!
    De uma recente visitante mas que já se fez fiel seguidora!

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  7. É uma pena o Fernando não escrever neste blog com mais regularidade.
    Deve ter tanta coisa interessante para nos dizer...

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  8. Fernando Tordo, depois de tantos anos usufruindo do prazer de o ouvir e (ou) apreciando alguns poemas e musicas suas superiormente inspiradas, chego à fala (leia-se à escrita) consigo. Já nos temos encontrado em lugares diversos, mas nunca calhou falarmos. Se tivesse calhado seria para lhe dizer o que escrevi acima e que também fui aluno do professor e musico Joel de Mascarenhas. Entretanto, um abraço Fernando Sehtimo.

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